terça-feira, 25 de novembro de 2008

Mauro de Salles Villar fala sobre o Acordo Ortográfico

ENTREVISTA COM O SITE DA "IG"

o "O português era a única língua escrita de duas maneiras" Isis Nóbile Diniz
Mauro de Salles Villar faz parte da história da Língua Portuguesa. Co-autor do Dicionário Houaiss e diretor do Instituto Antônio Houaiss, acompanhou todos os detalhes da última reforma que deu origem ao Acordo Ortográfico assinado pelas nações da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Atualmente, vivendo no Rio de Janeiro, prepara a edição completa e revisada do dicionário com as mudanças. Apesar das polêmicas, durante a entrevista o estudioso afirmou que essas transformações são importantes para os países lusófonos.iG - Como Antônio Houaiss apoiou a reforma?Mauro de Salles Villar – As conversações, que deram origem ao acordo, aconteceram na década de 1980. Se fosse aprovado esse primeiro projeto, cerca de 98% das palavras sofreriam mudanças. As sugestões do Antônio Houaiss e de outros estudiosos, como João Malaca Casteleiro, de Portugal, simplificavam muito a língua. Eliminavam alguns sinais das palavras, como o agudo, que são desnecessários para a pronunciação.iG – Por que esse primeiro projeto foi recusado?Villar – Houve uma reação muito forte em Portugal. Intelectuais e demais portugueses ficaram receosos devido ao medo de descaracterização da língua. As pessoas costumam não aceitar mudanças daquilo que elas dominam. Tudo o que é novo provoca essa ação. Assim, deram início às novas propostas que resultaram na reforma de 1990, gerando o acordo assinado recentemente. Optou-se por algo menos ousado.iG – Quais as principais diferenças do primeiro projeto da década de 1980 com relação ao atual?Villar – Ele possui menos alterações, mas cria grafias e acentuações duplas. Percentualmente, as palavras que se alteram são muito insignificantes. Algumas, realmente, simplificam a língua. Por exemplo, tirar o acento circunflexo de palavras terminadas em “oo” – vôo. Essa retirada não é importante, pois a pronúncia continua a mesma. De qualquer maneira, em menor escala, em Portugal algumas pessoas reagiram contra.iG – O senhor concorda com as mudanças?Villar – Nós tínhamos a única língua no ocidente que possuía duas formas oficiais de ser escrita. Não existe outra ocidental com essa característica. O árabe, por exemplo, é falado em 21 países de maneira diferente. Mas todos eles escrevem do mesmo modo. A ortografia é uma convenção que pode ser simplificada ou complicada. Muitas foram simplificadas no século XIX. Nós fizemos isso no Terceiro Milênio.
iG – Outras línguas, como o inglês, também possuem divergências...Villar – O inglês é a segunda mais falada no mundo. Possui pouquíssimas divergências ortográficas. A globalização do inglês ajuda nisso. Porém, é preciso que a língua seja coesa para ser poderosa.
iG – Qual a vantagem do acordo?Villar - A variedade do português do Brasil e de Portugal é muito aproximada. Não temos razão em ter duas formas oficiais de grafar a língua. Removemos quase 100 anos de imobilidade em direção a uma solução.
iG – Mas o Acordo Ortográfico possui problemas, não?Villar - A proposta apresenta um percentual de problemas. Mesmo assim, o importante é colocar em movimento essa ação. Depois, aprimoramos conforme o que for levantando.
iG – Quando teremos que fazer outra reforma?Villar – Não existe um tempo certo. Três décadas se passaram desde a última, que foi feita em 1970, e aconteceram apenas alterações pontuais. No futuro, todas as pessoas que trabalham com a língua poderão sugerir aperfeiçoamentos. Em seguida, os ortógrafos dos sete países deverão analisar essas mudanças.
iG – O Acordo Ortográfico pode ajudar na alfabetização?Villar – Claro. Simplificar é sempre valioso para a aprendizagem de uma língua. Os problemas acontecem em outras áreas, especialmente, no caso do hífen. O Acordo Ortográfico exclui o hífen de palavras que possuem elemento de ligação como “pé-de-moleque”. A maioria não terá mais o sinal. Porém, há determinadas palavras, tradicionalmente grafadas dessa maneira, que continuaram com o hífen como “cor-de-rosa”. Lexicógrafos portugueses e brasileiros concluíram como agir nesses casos.
iG – A edição revisada do dicionário está finalizada?Villar - O “Minidicionário Houaiss” foi o primeiro do Brasil a trazer essas alterações ortográficas. Está à venda. O infantil “Meu Primeiro Dicionário Houaiss”, adquirido pelo governo e indicado para crianças pós-alfabetização, também tem. O Grande Houaiss, com mais de 220 mil entradas, vai demorar mais tempo para ficar pronto. Nós estávamos acrescentando novas palavras e melhorando a edição. Agora, que estava quase no fim, teremos que rever desde o primeiro até o último verbete. A obra possui mais de 46 milhões de caracteres sem espaço. Eu imagino que a revisão demore, no mínimo, 20 meses com 10 pessoas muito capazes trabalhando.
iG – O que aconteceria se o acordo fosse recusado?Villar – Em muitas regiões, o número de falantes da língua portuguesa estava decrescendo. Moçambique entrou para a comunidade britânica. Guiné-Bissau, para a francesa. Isso ameaçava o português, a sétima língua mais falada no mundo – atrás do mandarim, inglês, hindi, espanhol, russo e árabe. Se o português for diferente em cada país, se transformará em outras línguas. Muito aceleradamente perderíamos falantes.

Um comentário:

Unknown disse...

Aaaa sei lá, acho que esta nova regra num parece ser tão simples assim. Ta certo que eu ainda num vi nenhuma propraganda ou nenhum artigo sobre elas, mas pelo que o pessoal ta falando....Bem, passando pra agradecer a visita no meu blog, principalmente pelo comentário. Confesso que aquele blog é um lugar onde eu escrevo TUDO o que vem na cabeça sem pensar 2 vezes.. mas tenho um lugar para blogar mesmo, tenho um outro blog 'sagrado'... [como meu perfil ta desativado... umpoucoderafa. blogspot. com]